Membro da RED INTERNACIONAL DE CUENTACUENTOS

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Meus primeiros narradores orais...


Folhetos de Cordel


A Literatura de Cordel fez parte de minha família desde a infância de meus bisavôs. Muitas de suas histórias difundiram-se no nordeste brasileiro, desde sua chegada a partir do século XVI, especialmente no período colonial. Dependurados em cordões (dái a origem de seu nome "literatura de cordel"), os folhetos volantes despertavam a atenção dos transeuntes nas feiras populares, principalmente quando recitados por seus poetas-narradores ou cantados pelos repentistas, rabequeiros e emboladores da época.

Meus bisavós, aprendendo alguns versos e histórias, repassavam aos seus filhos e assim sucessivamente até chegar a mim. Recordo com muito carinho de meu bisavô padim João que gostava muito de recitar quadrinhas como esta:

"Quem tem barba puxa a barba,
quem não tem puxa bigode,
a mulher como não tem,
puxa a barba do bode!"

Padim João comigo (Josy Correia aos 3 anos de idade), Fortaleza, março de 1985

Minha avó materna Fransquinha Justino (foto abaixo) contava oralmente histórias e romances para minha mãe, também derivados em sua maioria de folhetos de cordel como "Os doze pares da França", "O Boi dos Chifres de Ouro" ou "Pavão Misterioso". Além das histórias e versos, perpetuaram-se cantigas, canções de ninar e histórias religiosas (como os milagres do santo padre do Juazeiro do Norte Cícero Romão Batista). Inclusive, foi esse padre que abençoou o casamento de meus bisavós quando ambos estavam prometidos a outros pretendentes e, indo pedir a benção do padre para seus casamentos, o mesmo diz que devem casar-se um com o outro e não com os pretendidos. Assim se faz e os dois casam-se vivendo felizes para sempre, como nos contos de fadas!


Fransquinha Justino (Juazeiro do Norte-CE)

Ainda através de minha mãe, Leni Crispim, herdeira de tantas histórias e que possuía rica oralidade, encantando-se em recontá-las para nós e de meu pai José Correia Filho que sempre gostava de recitar quadrinhas humorísticas, piadas, anedotas e pequenos causos, pude vivenciar o universo fantástico de nossa rica tradição oral.

 
José Correia Filho (Quixadá-CE)

Depois que cresci procurei registrar essas memórias, que muito contribuem ao meu trabalho como artista e contadora de histórias.

As quatro gerações da família Justino Correia: Leni Crispim, Fransquinha Justino, Monalisa Correia e Geovana Correia
(Juazeiro do Norte-CE e Fortaleza-CE)


Não podia deixar de citar neste espaço especial do meu caminho de aprendizado com estes primeiros narradores orais, duas pessoas fundamentais em minha vida, com quem muito aprendi. Não temos parentesco de sangue, mas certamente união de espírito-contador-e-parceiro: Júlia e Glauci Fiuza. Duas mulheres que me fizeram sentir a suavidade da vida através de suas histórias, vivenciadas a cada dia, pelo prazer de suas convivências em minha vida. Glaucita (grande narradora oral!) nos fazia rir com suas piadas, causos, anedotas e versos inesquecíveis e Júlia, com as histórias reais de sua infância e com as histórias lindas que criamos juntas.

À estas pessoas, parte de minha própria história, minha gratidão e amor!


Júlia Fiuza

Glauci Fiuza (Dona Glaucita)


Valorizar e preservar estas histórias repassadas da tradição oral é para mim uma missão e um grande prazer: referência de vida!


Josy Correia na época de suas primeiras histórias...
(Fortaleza, Ceará, Início dos anos 80)

Um comentário:

  1. Josy, muito legal o seu blog.
    Eu também tenho outro onde reúno histórias e ema is de todo o tipo. Mostro um pouco do trabalho que desenvolvo com Érika e Perpetua aqui na comunidade.
    O nome dos outros Blogs são;
    http://vouemboraparaparsagada.blogspot.com/

    http://minhacasameucorpominhaalma.blogspot.com/
    Este último começou por causa das Jabuticabas e das cantigas de roda.

    ResponderExcluir